quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Sociedade "Fordiniana"

O medo alimenta-se do sorriso, de tal forma, que este se transforma na máscara que o esconde.
É esta a dinâmica em que hoje se vive. A utopia passou a ser um sonho esquecido, o mundo um escravo do egoísmo humano. A palavra indivíduo perdeu-se algures entre os valores soviéticos e os interesses capitalistas. 
Constituímos agora um grande rebanho de conformistas cuja herança cultural será duvidosa. Nós, os conformistas, abdicamos conscientemente e de bom grado da valiosa privacidade, essa que nos permite encontros com a tão só Razão. Os mestres, como Huxley e Orwell, cientes do futuro da sociedade deixaram como herança obras literárias que retratam a distopia em que vivemos.
Porém, poucos são aqueles que aceitam a solidão como companheira. Poucos são aqueles que aceitam o pensar como forma de viver válida. A resignação é a atitude mais fácil e o medo é o melhor incentivo. Somos seres que flutuam sobre a vida sem nunca termos a coragem de a pisarmos. 
Preferimos apenas obter o que a sociedade toma como suposto e necessário para se ser feliz, traindo o que nos torna mais humano, a individualidade. Optamos pela vida formatada e ocupamos o nosso lugar na vida "Fordiniana". Abandonamos deliberadamente o nosso pensamento. 
Somos como pássaros que se recusam voar. Quando o conhecimento se torna de extrema facilidade de acesso, deixa de nos interessar. Rejeitamos o direito à liberdade em prol de um poder cujo alicerce não é a sabedoria mas sim a ganância. 





sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Músico


Em palavras ouvi histórias serem contadas,
em olhares vi memórias,
em pequenos gestos vi vidas mudarem,
mas com as tuas mãos vejo-te criar,
transformar, sentir, cada nota que tocas,
com delicadeza, destreza,
entoando melodias que demonstram
cada pensamento ou sentimento,
que alguns não alcançam.
Quem se entrega a esse talento,
fechado horas e horas,
sacrifica-se por outros,
rende-se ao desejo e ambição,
perdendo-se em seu próprio coração.



quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Londres

Esta cidade nada atraente se apresenta,
aos olhos dos que à muito deixaram de ver,
tão fria, desagradável, cinzenta.


Mas para os que por lá passam com o olhar cheio de esperança, que olham através do cinzento, encontram em cada casa, em cada rua, em cada esquina algo diferente, incomum. Uma cidade que nos encanta com o espírito mágico dos contos e da fantasia, saído de histórias como o Peter Pan, Mary Poppins, 101 Dálmatas.
Monárquica, sim, com reis e rainhas, príncipes e princesas, pois de outra maneira não poderia ser, nesta cidade do contra onde os veículos circulam ao contrário e mesmo com um relógio gigante consegue ter o dom de fazer com que a noção do tempo se perca. Tão pitoresca é com os pequenos "quebra-nozes" sempre calados, sempre quietos como bonecos, guardando a família real.

Portobello ganha vida aos sábados de manhã, dando lugar a uma animação que mistura cheiros, cores e épocas. Quem por lá passa, não resiste a comprar nem que seja uma lembrança, de se deslumbrar com a loja que expõe 1500 máquinas de costura antigas como decoração, de procurar a tal "livraria" do filme "Notting Hill", de parar para ouvir os músicos que enchem as ruas com melodias ou de se espantar com os ex-militares fardados que passeiam calmamente misturando-se com as pessoas.

Como é emocionante sentir o som das badaladas do Big Ben, tão grandioso sino que habita a Torre do Relógio construída com tamanha perfeição. As ruas da cidade, essas, são os berços de mitos sobre assassinatos, são a origem de muitos terrores e serial killers.

Que mistura fatal esta entre o Fantástico e o Horror de Londres.





terça-feira, 16 de novembro de 2010

Mundo

Escondidos vejo-os a todos, todos da mesma maneira, um por um, deixam-se dominar pela ausência, a ausência de um ser que apenas sobrevive num mundo que teimam em pintar de cinzento, num mundo perdido, num mundo sem mudanças, constante. Ao caminhar pelas ruas, muitos esquecem-se de olhar para o céu, muitos ignoram cada rosto que com eles se cruza, considerando-o pouco mais insignificante do que uma pedra deslocada da calçada. Com que direito, podem esses julgar quem vive, quem sente, quem existe. Loucos somos considerados por vocês, que o desconhecido temem, que com desdém olham para a pessoa que mostra coragem suficiente para se levantar num concerto, para se juntar à orquestra e para sentir a música com o coração ou para aquele que ao olhar o horizonte lá bem do alto, diz com convicção " Eu consigo voar". Desde quando é que o mundo tem de ser igual para todos? Somos livres desde que nascemos, as regras, as proibições, somos nós, os humanos quem as fazemos. Deus criou as regras e talvez nós tenhamos criado Deus, como uma desculpa para o começo da humanidade, já manchado pelo o medo que até hoje comanda biliões de pessoas. Biliões de pessoas que apenas sobrevivem, sem se darem ao luxo de sonhar, como se sonhar fosse uma doença, neste nosso mundo doentio.


Dedicado à minha avó Rosa Maria Campeão de Figueiredo.